Semanalmente, um grupo de 40 pacientes, com idades que variam de 5 a 50 anos, comparece ao IOT, mas não para a realização de exames ou consultas, e sim para praticar esportes.
Esportes no hospital? Sim, esportes no hospital! As atividades fazem parte do programa de Terapia Esportiva, voltado a pacientes com paralisia cerebral do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC.
Há mais de três décadas o instituto desenvolve, além do tratamento cirúrgico e da reabilitação, um programa, a Terapia Esportiva, que conta com uma equipe multidisciplinar formada por ortopedistas, médicos residentes de medicina esportiva do IOT, professores de educação física, fisioterapeutas, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, auxiliares de enfermagem, psicólogas, fonoaudiólogas e voluntários. “A terapia esportiva é uma complementação do tratamento hospitalar”, diz o coordenador do programa, André Pedrinelli.
A atividade coletiva desenvolvida pelos profissionais do Grupo de Medicina do Esporte da ortopedia visa ao desenvolvimento funcional, emocional e a sociabilização dos pacientes na fase pré e pós- cirúrgica. Durante as aulas, que acontecem todas às quinta- feiras na Associação Atlética Oswaldo Cruz da FMUSP, movimentos que seriam impossíveis de serem vistos dentro de um ambiente como um consultório podem ser observados pelos diferentes olhares da equipe multidisciplinar. Num espaço onde é possível correr, utilizar bolas ou outros materiais esportivos fica mais fácil analisar movimentos dos pacientes e estimular o desenvolvimento de eventuais dificuldades.
A atividade física desenvolvida durante a terapia possibilita o aumento da resistência à fadiga, melhora da condição cardiorrespiratória, força muscular, flexibilidade, agilidade, coordenação, equilíbrio, e principalmente, autoconfiança.
Além de apoiar os médicos no acompanhamento da evolução dos pacientes durante o tratamento, a atividade terapêutica possibilita que os pacientes criem uma certa independência e auxilia na inserção social. O supervisor da Terapia Esportiva, Felix Andrusaitis, conta que 35% dos pacientes que participam das atividades no HC deixam de fazer educação física nas escolas por vergonha, ou por não serem aceitos pelos colegas. “Aqui no HC eles encontram seus pares e ficam mais soltos. Isso é fundamental para o desenvolvimento social”, explica. Como exemplo, ele cita um jovem que frequentava a terapia esporadicamente porque tinha dificuldade em arrumar um cuidador para trazê-lo. “Aos poucos, ele começou a ganhar independência para vir sozinho e também frequentar outros lugares sozinho”.
Para Pedrinelli, pacientes de paralisia cerebral podem e devem fazer atividade física. “Para mantê-los em atividade, porém, é preciso ter criatividade e fazer adaptações que tornem as práticas interessantes a eles e aos colegas.
A assistente social Maria Rosa Evangelista ressalta que, se em outros ambientes os pacientes diagnosticados com paralisia cerebral sentem-se excluídos por diversos motivos, no Instituto de Ortopedia do HC eles não só participam de jogos e brincadeiras. “Todo fim de ano fechamos com chave de ouro nosso trabalho, com a realização dos Jogos Anuais da Terapia Esportiva (JATE). Uma espécie de olimpíada para eles, que são todos vencedores a cada etapa conquistada, por menor que ela seja”, diz.
Atividade para cuidadores
Enquanto a criançada se exercita durante 1h30 na quadra da AAAOC, os pais e cuidadores participam de atividades paralelas como: palestra de saúde, debates sobre diversos temas, além de poderem fazer até mesmo exercícios. “Há programação para a família toda”, diz Maria Rosa.
O que é a paralisia cerebral
A paralisia cerebral é uma lesão do sistema nervoso central que ocorre antes, durante ou depois do parto – até os 6 anos – provocada muitas vezes pela falta de oxigenação do cérebro. Além dos problemas motores, alguns pacientes podem apresentar comprometimentos mentais, auditivos, visuais ou fonatórios.
Fonte: HC em Movimento